Papagaio é uma fábula das histórias do Guarda-roupa
Não
pode me dar linha em um dia de vento que vou brincar lá no céu.
Ganho altura na imensidão e rodopio ao
perceber a felicidade do meu mestre que não se cansa de olhar pra cima e me admirar.
Eu vivo nas nuvens. Vou para onde o vento me
levar. Confesso que não tenho asas, mas vivo voando alto. Sou uma pipa
Papagaio.
Quando se cansa meu dono puxa a linha e me
leva para casa. Quando eu quero sentir o vento um pouco mais eu recuso a descer
do céu, porém meu dono enrola a linha para provar que me controla. Certo dia,
eu não obedeci a seu chamado: mordi a linha, fiquei desorientada, fui forçada a
descer e tive uma aterrissagem brusca, caí em um lugar esquisito com cachorro
feroz latindo pra mim. Fiquei aliviada quando vi meu mestre correndo
desesperado ao meu encontro. Ele me apanhou e me abraçou e fiquei feliz de
voltar pra casa mais uma vez com meu querido mestre.
Sou uma pipa Papagaio. Adoro ser admirada. Não
me incomodo em dividir o céu com outras pipas. Eu até gosto da companhia das
pipinhas mequetrefes que tentam se exibir e pagam maior mico no céu, gosto
também das pipinhas sassariqueiras que adoram brincar de pega-pega com leves
beijinhos. Gosto até das pipas sérias que não gostam de diversão, sempre tontas
com o puxão do vento, desmaiam e caem sobre o solo quando o vento vai embora.
Sou uma pipa Papagaio. Eu não gosto de
confusão. É por isso que fujo dos papagaios encrenqueiros que ganham altura só
para cortar a linha dos seus semelhantes.
Não é que eu seja covarde, é que não sou
soldado de guerra. Não gosto de machucar nenhuma pipa, mas também não quero que
me machuquem. Além disso, não uso cerol
na linha, eu acho o ato desumano.
Uma bela tarde de sol, apareceu um senhor de
22 anos com uma pipa revoltada e foi direto cortando a minha linha. Cai bruscamente e me machuquei na pedra,
partiu-se minha rabiola. Pensei que fosse ficar deficiente para sempre, mas sou
uma pipa Papagaio de sorte. Meu dono gosta muito de mim e não me jogou fora
como faria se fosse um mestre desalmado.
Sou uma pipa Papagaio de sorte. Ganhei outra
rabiola, outra linha sem cerol e continuo voando sob o céu azul.
Meu dono foi capaz de me refazer e fez uma
rabiola ainda mais bonita que a primeira e sei que quando eu me aposentar, meu
mestre, meu dono, o menino da Rua Augusto dos Anjos sempre se lembrará de mim
com carinho. Por isso que sempre digo: sou uma pipa Papagaio de sorte!
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