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quinta-feira, 19 de março de 2015

Papagaio

Papagaio é uma fábula das histórias do Guarda-roupa

Não pode me dar linha em um dia de vento que vou brincar lá no céu.
 Ganho altura na imensidão e rodopio ao perceber a felicidade do meu mestre que não se cansa de olhar pra cima e me admirar.
 Eu vivo nas nuvens. Vou para onde o vento me levar. Confesso que não tenho asas, mas vivo voando alto. Sou uma pipa Papagaio.
 Quando se cansa meu dono puxa a linha e me leva para casa. Quando eu quero sentir o vento um pouco mais eu recuso a descer do céu, porém meu dono enrola a linha para provar que me controla. Certo dia, eu não obedeci a seu chamado: mordi a linha, fiquei desorientada, fui forçada a descer e tive uma aterrissagem brusca, caí em um lugar esquisito com cachorro feroz latindo pra mim. Fiquei aliviada quando vi meu mestre correndo desesperado ao meu encontro. Ele me apanhou e me abraçou e fiquei feliz de voltar pra casa mais uma vez com meu querido mestre.
 Sou uma pipa Papagaio. Adoro ser admirada. Não me incomodo em dividir o céu com outras pipas. Eu até gosto da companhia das pipinhas mequetrefes que tentam se exibir e pagam maior mico no céu, gosto também das pipinhas sassariqueiras que adoram brincar de pega-pega com leves beijinhos. Gosto até das pipas sérias que não gostam de diversão, sempre tontas com o puxão do vento, desmaiam e caem sobre o solo quando o vento vai embora.
 Sou uma pipa Papagaio. Eu não gosto de confusão. É por isso que fujo dos papagaios encrenqueiros que ganham altura só para cortar a linha dos seus semelhantes.
 Não é que eu seja covarde, é que não sou soldado de guerra. Não gosto de machucar nenhuma pipa, mas também não quero que me machuquem.  Além disso, não uso cerol na linha, eu acho o ato desumano.
 Uma bela tarde de sol, apareceu um senhor de 22 anos com uma pipa revoltada e foi direto cortando a minha linha.  Cai bruscamente e me machuquei na pedra, partiu-se minha rabiola. Pensei que fosse ficar deficiente para sempre, mas sou uma pipa Papagaio de sorte. Meu dono gosta muito de mim e não me jogou fora como faria se fosse um mestre desalmado.
 Sou uma pipa Papagaio de sorte. Ganhei outra rabiola, outra linha sem cerol e continuo voando sob o céu azul.

 Meu dono foi capaz de me refazer e fez uma rabiola ainda mais bonita que a primeira e sei que quando eu me aposentar, meu mestre, meu dono, o menino da Rua Augusto dos Anjos sempre se lembrará de mim com carinho. Por isso que sempre digo: sou uma pipa Papagaio de sorte!

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